Ana Carneiro
Data: 10/09/2018
*Entrevista exclusiva com Ricardo De la Riva*
*Entrevista exclusiva com Ricardo De la Riva*
Andando pelo bairro ensolarado onde mora e iniciou sua história, uma homem de meia idade, esguio, de cabelos grisalhos, olhar forte e sorriso largo, passa não muitas vezes despercebido. Ele cumprimenta os que passam por seu caminho, sempre com a mesma atenção e cuidado.
Essa simplicidade toda vem de Ricardo de la Riva Goded, carioca, com uma ascendência Hispanico-Francesa, poliglota por berço e pelas viagens para dar aulas e seminários que o levaram para 4 dos 5 continentes do mundo, graduado em Educação Física, casado, pai orgulhoso do Daniel e um dos maiores Mestres do Jiu-jítsu mundial.
De La Riva no seu CT em Copacabana
Foto: woohoo.com.br
A História
Sua história no jiu-jítsu começou naturalmente como tudo em sua vida. Foi levado para os tatames pelo pai após, como ele costuma contar, “Uma briga que não briguei”. O incidente aconteceu quando o jovem Ricardo e seus dois irmãos foram abordados por um grupo que queria jogar bola com eles na praia de Copacabana. Devido a recusa dos irmãos de la Riva o grupo passou a persegui-los, e o irmão mais velho, num rompante protetor, decide dizer ‘delicadezas impublicáveis’ ao tal grupo. O resultado foi dantesco com os três irmãos fugindo da praia com o bando correndo atrás deles.
Após o incidente, os três irmãos foram conduzidos pelo pai Carlos, dono da Delart, empresa da família especializada em dublagens, para o tatame, onde deveriam aprender a defender-se. E no verão de 1980, aos 15 anos de idade, de la Riva começa sua história no jiu-jítsu.
De La Riva recebendo certificado da graduação das mãos de Reyson Gracie
Foto: Rodrigo Molina
A origem da Guarda De La Riva
Seu professor que dava aulas em casa e era faixa marrom do Carlson Grace, quando viu o potencial competidor do seu aluno, por não ser federado, o conduziu ao seu mestre.
A academia de Carlson era famosa por seus grandes passadores mas de la Riva sempre se sentiu mais confortável na guarda, como relatou: “A luta de competição começa em pé, e eu nunca gostei de jogar em pé. Eu buscava puxar para a guarda, pois com a flexibilidade que sempre tive, dificultava o oponente.” Foi assim que ainda na faixa azul, de la Riva começa a desenvolver sua famosa guarda, aquela que carrega seu nome.
Como relata: “Meus parceiros de treino começaram a chamá-la de guarda pudim, porque o cara ficava todo desestabilizado, mole mesmo, como um pudim quando sai da geladeira”.
O estilo próprio de sua guarda, que ele alcunhava simplesmente como gancho, começou a ser ensinada pelas outras academias, com seu nome. E logo após vencer em 1987 a Copa Cantão, em uma luta contra Royler Gracie, a imprensa que comentou muito esse feito, começou a usar o termo Guarda de la Riva para nomear a posição que esse pioneiro dos tatames desenvolveu.
Robson Gracie gradua De La Diva com a Faixa Coral
Foto: Rodrigo Molina
De la Riva Mestre, competidor, empresário e homem
Como costuma dizer, “tudo em minha vida aconteceu naturalmente”, e dar aulas não poderia ser diferente. Ele começou muito cedo ainda na Faixa Azul, auxiliando Carlson em sua academia. O convívio, o contato, e o lidar com o público o fez desenvolver um estilo e vocabulário próprios, que só os iniciados em suas aulas e hoje em dia no tatame azul e amarelo do CT em Copacabana conhecem. “Não fazemos parte de uma equipe, somos uma família”, como relatou uma de suas alunas.
A transformação feita pelo Mestre aos alunos da Escola De La Riva de Jiu-jítsu começa por dentro ao interiorizarem a firme delicadeza da disciplina, respeito, dedicação, atenção na execução das posições, e no cuidado e convívio com seus parceiros de treino. A primeira academia De La Riva foi fundada em 1987, um ano após esse mestre multifacetado ganhar sua Faixa Preta.
O fato de tratar a Arte Suave, com a delicadeza de um artesão não o faz menos combativo nos rolas do dia a dia e nas lutas que já competiu. Como relata: “No dia da luta meu humor muda sim, fico agitado, eu tenho que entrar na parada. Mas na hora que piso no tatame, me dá uma calma, minha concentração é tanta que nem sinto o coração bater.” E com esse espírito que aconteceram suas famosas vitórias contra Royce, Rolker e Royler Gracie e todas as outras que os tatames da vida o presentearam em que usou a mesma dedicação e preparação.
E foi em uma dessas viagens ao Japão, na naturalidade dos acontecimentos da sua vida, que De La Riva conhece, através de seus alunos, os irmãos Nogueira, o atleta Anderson Silva. A proximidade aconteceu e há quatro anos o mestre foi convidado a cuidar da preparação do Spider para suas lutas no MMA.
A proporção de importância no meio, que começa a ganhar, faz surgir do mestre-competidor mais uma faceta, a de empresário. Hoje a sua marca é uma holding que há seis anos começou a arrebanhar afiliados, que no momento conta com 78 ao redor do mundo. A atenção do mestre-empresário não está só na concessão de sua marca, mas no cuidado individualizado que dá a cada associado. E preocupado em melhorar sua performance, Ricardo de la Riva busca sua evolução com sessões de Coach.
Evolução sempre foi a marca registrada da sua escola. Fora as turmas regulares adulta e infantil, ambas mistas, De La Riva em breve abrirá turmas exclusivamente para o público feminino.”Existe um interesse crescente das mulheres pelo jiu-jítsu, e queremos dar comodidade as que não se sentem confortáveis em classes mistas”, disse sempre atento ao seu público.
Suas atribuições como mestre, competidor e empresário não retiram a que ele considera sua melhor faceta: a do amigo, marido e pai Ricardo. Um homem inteligente, sorridente, simples em sua essência, que ama praia e açaí, disponível às suas famílias, sejam elas as de sangue ou do tatame e aos amigos de toda uma vida.
Família de Ricardo De La Riva
Foto: Rodrigo Molina
O Legado
E por toda essa contribuição a sociedade e sua história que no último dia trinta de Agosto, Ricardo De la Riva foi informado que receberá em solenidade da Câmara dos Deputados do Rio de Janeiro, à ser entregue em meados de Novembro, a Medalha de Mérito Pedro Ernesto. Essa honraria é a principal homenagem que o Rio de Janeiro confere a quem mais se destaca na sociedade brasileira ou internacional.
A história de Ricardo de la Riva se confunde e mistura com a base do jiu-jítsu como conhecemos hoje. Mas será que toda bagagem, sucesso e homenagens subiram a sua cabeça? Ele responde: “Não! Sou o mesmo cara”, disse no seu chiado carioca. Realmente essa afirmação pode ser comprovada nesses mais de 30 anos de dedicação a Arte Suave por todos que passaram por seu caminho e ganharam além do saber, o calor do seu sorriso.
Logo da holding De La Riva Jiu-Jítsu
Foto: facebook.com
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