quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Um tatame para todos

Ana Carneiro 
anapaulacarneirocareli@gmail.com


Foto: produto.mercadolivre.com.br

Suores, odores fortes, muitas escoriações, machucados e a impressão que o ambiente de uma arte marcial como o Jiu-Jítsu seja unicamente hétero e masculino, é a percepção da maioria. Será?
O que se vê no dia a dia das academias dessa arte marcial, que tem no significado do nome a palavra suave, porque busca exatamente isso, sobrepor o seu oponente usando técnica, é que a afirmativa é falsa, e que o tatame é assexuado e para  todos.
Isso pode ser comprovado no interesse e inclusão do público hétero feminino e LGBT nos tatames. Em busca de diversão, condicionamento físico ou autodefesa, esse público que está nos tons mais pastéis da palheta do arco-íris tem encontrado também seu lugar nesse ambiente. 
Cada pessoa tem um motivo em desbravar esse ambiente novo. André Bernardo da Silva, professor de Educação Física que há 8 anos pratica essa arte,  falou seus motivos. “Devido a turbulências na minha vida pessoal, entrei no Jiu-jítsu para melhorar minha autoestima e aumentar minha motivação na vida”, disse o Faixa Roxa da Escola De La Riva de Jiu-Jítsu.  Apesar do predomínio hétero no tatame, André nunca se sentiu excluído ou rejeitado. Como relatou:  
“O que me encantou foi o acolhimento do meu mestre, Ricardo De La Riva, e de todos os companheiros de equipe. Entrei e realmente  me sinto como parte dessa grande família.”
Quanto à impressão que os gays jiujiteiros precisam ficar no armário dentro do tatame, essa afirmativa, segundo André não procede.“ Sempre tive postura lá dentro, a mesma que se espera de qualquer aluno independentemente de sua opção sexual. Mas nunca escondi quem sou  e nunca fui rejeitado ou excluído por causa disso”, disse o professor. 

                                                     André com o mestre Ricardo De La Riva
                                                                                 Foto: facebook.com

Os rótulos pré-concebidos pela sociedade que formatam uma caixa que mostra onde cada grupo deve transitar são engessados. Segundo André, ser praticante de Jiu-jítsu é só uma das facetas do que ele é. “Sou André, Gay, professor, amante de carnaval e Jiujiteiro. Rótulos não me comportam”, afirmou. Estar atento também com a própria segurança, em um mundo que ainda se mostra tantas vezes homofóbico, é outra vantagem em treinar. “O jiu-jítsu me dá um suporte bom. Nunca usei e espero nunca precisar, mas se acontecer, saberei me defender”, afirmou o professor que também já lutou capoeira. Segundo André:
“ O Jiu-Jítsu não me defendeu simplesmente de ataques físicos, mas da vida. É minha válvula de escape e escudo.”
Como uma grande aldeia democrática, cada vez mais o tatame, esse local especial onde a mágica dessa arte acontece, recebe a todos, independente das suas vivências, para que a partir dali contem novas histórias.

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