quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Jiu-jitsu no Autismo, uma janela para olhar além

Ana Carneiro 
Data: 10/09/2018

O menino João vestindo seu kimono e faixa preta finaliza com um armlock seu adversário com três vezes o seu tamanho. Ele tem apenas cinco anos de idade  e sua fama como samurai ultrapassa o mar do Japão chegando ao Oceano Pacífico. O acontecimento épico todo acontece na mente de João enquanto se balança, com um sorriso vago e olhar distante para a parede que está em sua frente.

Essa história, que poderia tranquilamente fazer parte de um conto dos irmãos Grimm, na verdade é o universo do pequeno João, cinco anos, praticante de Jiu-jitsu e uma criança com transtorno do espectro autista. Como ele pratica a Arte Marcial, dentro do seu mundo fechado, o Jiu-jitsu já ocupa lugar de honra. Apesar de ser um personagem inventado, caracteriza bem o universo interior, muitas vezes fechado ao mundo, sem nenhuma janela, das crianças com esse distúrbio.

Mas como é possível conciliar um transtorno que é caracterizado com a dificuldade de interação com um esporte de contato como o Jiu-jítsu?
Segundo Felipe Nilo, formado em Educação Física, atleta de Jiu-Jítsu, MMA e um professor que ensina a Arte Suave para crianças especiais a mais de dois anos, a resposta é sim! “Para alguns médicos e terapeutas algumas crianças que atendemos não teriam condições de fazerem atividade física. Mas nós mostramos com nosso trabalho que é possível sim e que atividades como o Jiu-Jítsu trazem para o indivíduo autista benefícios físicos, neurológicos e sociais”, disse o professor que atualmente atende cerca de 30 crianças especiais.

Apesar de existir uma consciência coletiva sobre o padrão que teriam essas crianças autistas, o professor nos fala que assim como crianças que não tem esse distúrbio, cada autista tem suas características e suas possibilidades de desenvolvimento. E o desenvolvimento pode chegar ao ponto de saírem do quadro, se graduarem e começarem a treinar em turmas regulares. 

Felipe Nillo e um dos seus alunos especiais
Foto: picluck.net
Felipe Nilo finaliza dando esperança a tantos pais que buscam no jiu-jítsu uma estrada de desenvolvimento para seus filhos autistas:  “Tenho alunos que não falavam e hoje estão falando, que não sabiam dar uma cambalhota e hoje aprenderam a cair e levantar. E muitos chegam no tatame me abraçando, beijando e dizendo que me amam. Isso para nós que trabalhamos com elas é uma vitória inestimável! Inclusão consciente traz com ela esse tipo de resultado. E tudo que desejo com meu trabalho é proporcionar uma janela de compreensão, para que essas crianças consigam enxergar o nosso mundo dentro do mundo delas”.

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